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Até quando?

Arte: Na Galera Esporte
Por: Leandro Antonio

Sou um amante dos esportes. Quis ser atleta, mas não virou. Com muita sorte seria reserva em time de Série A2 ou A3. Até por isso recorri ao jornalismo, para poder estar o mais próximo possível ao meu antigo sonho. E uma vez jornalista, sempre jornalista. Então estou a escrever esse artigo e agradeço a oportunidade ao meu amigo-irmão Douglas Valle.

Acompanho esportes desde muito criança. Sou da geração ‘Show do Esporte’, quando iniciava o domingo com jogos de sinuca e terminava com futebol americano. E apesar de todo encanto que o esporte me traz, nesses últimos tempos notei uma certa falta de vontade de assistir a determinados eventos, sobretudo os realizados em território nacional. Talvez seja por reflexos da pandemia, ou mesmo mudança de prioridades que a vida adulta nos traz. Não sou da turma que tenta encontrar justificativa do que acontece comigo e ao meu redor no que outras pessoas fazem ou deixam de fazer. Prefiro olhar para o meu próprio umbigo. Mas confesso que ainda não me convenci de que o problema desse desinteresse está em mim.

E entre o atual trabalho (instrutor de ensino técnico profissionalizante) e a vida cotidiana em casa talvez tenha encontrado uma pista do porquê ter trocado a audiência do bom e velho futebol (mesmo que continue a acompanhar via rádio e redes sociais) por, às vezes, assistir a uma “animada” volta de golfe, ou até mesmo rugby: a violência.

Não serei hipócrita em afirmar que isso é exclusividade dos tempos atuais. Menos ainda em dizer que só acontece aqui no Brasil. Já vi e até presenciei esses quiproquós como torcedor e profissional de imprensa nos meus quarenta e um anos de vida. Também não quero entrar no mérito da incompetência do poder público em não punir de forma exemplar quem comete esse crime. Mas somente nesse ano pudemos acompanhar ao menos quatro ocorrências cujo futebol foi o pano de fundo:

Copinha (22/01): “torcedores” (com aspas mesmo) do São Paulo invadiram o gramado e, após uma faca ser arremessada da arquibancada, um deles a empunhou e ameaçou partir para cima dos jogadores do Palmeiras. O que estava armado foi contido pelos jogadores tricolores. Os atletas do Verdão chegaram a pedir ao árbitro para que a partida fosse suspensa. Em vez disso, o apitador recolheu o objeto, entregou ao delegado da partida e reiniciou o jogo, como se nada ocorresse.

Copa do Nordeste (24/02): ônibus que levava a delegação do Bahia foi atingido por uma bomba nos arredores da Fonte Nova, antes do jogo diante do Sampaio Correia. Os jogadores Matheus Bahia e Danilo Fernandes sofreram cortes com os estilhaços de vidro da explosão. O último citado precisou ser levado ao hospital para tratar dos ferimentos na face. Um deles ficou a milímetros do olho. O jogo aconteceu normalmente. Descobriu-se posteriormente que o carro que transportou quem arremessou o artefato é de propriedade do presidente de uma das torcidas organizadas do clube baiano.

Gre-Nal (26/02): ônibus do Grêmio foi atingido por pedras e pedaços de ferro lançados por “torcedores” do Internacional ao se aproximar do Beira-Rio, onde disputaria o clássico regional de número 453. Três jogadores sofreram ferimentos. O caso mais grave foi o do volante Villasanti, que necessitou ser hospitalizado com traumatismo craniano e concussão cerebral. Felizmente nada de mais grave ocorreu e o jogador já voltou às atividades profissionais. Desta vez a bola não rolou.

Durival de Brito (26/02): invasão de “torcedores” do Paraná Clube antes mesmo da bola parar de rolar diante do União, quando a equipe já perdia por 3 a 1. O resultado rebaixou a equipe paranista com uma rodada de antecedência do término do campeonato para a segundona estadual. Os invasores partiram para cima e saíram no braço com os jogadores da própria equipe. Felizmente os atletas conseguiram correr para o túnel que dá acesso aos vestiários e ninguém saiu gravemente ferido.

Como que o esporte mais popular do planeta pode ainda abrigar esses acontecimentos? Repito que não é um problema atual. Não são ocorrências isoladas. Já aconteceu coisa muito pior fora do país - Tragédia de Heysel, por exemplo, onde trinta e nove pessoas perderam a vida no que deveria ser a disputa do título europeu entre Juventus e Liverpool, em 1985, na Bélgica.

No fim de semana aconteceu uma verdadeira batalha campal entre os torcedores do Querétaro e do Atlas, na Liga Mexicana. O tumulto começou no setor da torcida visitante (Atlas) com a invasão desse espaço pelos torcedores locais do Querétaro. O confronto se estendeu para dentro do gramado e também fora do estádio. Segundo as autoridades policiais mexicanas, apesar da barbárie, somente 22 pessoas ficaram feridas e sem confirmar nenhuma morte. Já a imprensa local estima que ao menos quinze pessoas perderam a vida no conflito.

Ah, mas a violência e a falta de segurança estão presentes em nossas vidas todos os dias por essas bandas desde 22 de abril de 1500. É assalto, assassinato, sequestro, racismo... É verdade! Mas o futebol não é um mundo à parte. Pelo menos para mim. Não se pode justificar o injustificável por conta da paixão por um clube, agremiação. O que mais precisará acontecer para que providências sejam tomadas? Chega de normalizar o que não é e nunca foi normal.

Creio que o esporte é uma potente ferramenta de educação, saúde, socialização e mudança de vida. O alcance que ele possui não tem medida. Muitos dos envolvidos não se perceberam disso (desde jogadores até o próprio torcedor). E ele não pode servir para espalhar a violência, intolerância, ignorância, guerra. E por falar em guerra...

Para encerrar, me lembro como fosse hoje: ainda há quem diga que sairíamos melhores da pandemia. Resultado: nem saímos da pandemia (apesar de muita gente agir como tal), e tampouco estamos melhores. Até quando?

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